Tem uma Casa…ou um Lar?

Os principais sinónimos de casa são segurança e protecção, ou seja, ter uma casa faz parte das nossas necessidades mais básicas. No entanto, existem diferenças entre uma casa enquanto espaço onde guardamos os nossos pertences, onde fazemos as nossas refeições, onde descansamos, e um lar.

O termo lar difere, sobretudo, no significado que este espaço tem para nós e no efeito que este exerce sobre a nossa vida e as nossas emoções.

Está neste momento a perguntar a si próprio se considera o espaço onde vive, uma casa ou um lar? O simples facto de se questionar, já será possívelmente um motivo para continuar a ler este texto e pensar nesta questão… Para ajudar nesta reflexão, vou deixar-lhe algumas perguntas às quais pode apenas responder mentalmente ou, se quiser explorar um pouco mais este tema, apontar num papel e mais tarde voltar a reflectir:

  • Quando pensa na sua casa, qual é a emoção mais imediata que sente?
  • Quando está fora, no dia a dia, tem vontade de voltar para casa porque é lá que se sente bem e onde pode revigorar-se e recuperar energias, ou apenas porque tem as suas tarefas diárias à espera, porque é lá que tem que dormir e fazer a sua higiéne pessoal, como se de um processo logístico se tratasse?
  • A sua casa é um reflexo do seu gosto e dos seus verdadeiros interesses, da sua forma de estar e viver?
  • Receber visitas é sempre um prazer ou cada vez que pensa nisso tem um surto de ansiedade, ou até mesmo de vergonha, dado o estado em que a sua casa se encontra?
  • Costuma gastar tempo à procura de objectos que “tem a certeza que ainda agora estavam ali…”?

É natural que tenha uma expectativa, consciente ou inconsciente, de que o espaço que habita, lhe ofereça tudo o que precisa:

  • Conforto
  • Paz
  • Harmonia
  • Segurança
  • Estabilidade
  • Bem Estar
  • Equilíbrio

Transformar uma casa num lar não é uma tarefa tão simples quanto parece… Somos constantemente imundados com imagens de casas muito bonitas, bem decoradas, simples ou luxuosas,  imagens estas que são muitas vezes acompanhadas de pessoas sorridentes, num arquétipo perfeito da “família feliz”. O marketing é, sem dúvida alguma, uma ferramenta muito bem estudada e importantíssima em todas as áreas de negócio – incluíndo a área da arquitectura e decoração, mobiliário, etc.

No entanto, saber escolher aquilo que se irá ajustar melhor a nós, à nossa família que connosco partilha a mesma casa, e aos nossos hábitos e necessidades do dia a dia, é uma arte semelhante à dos melhores costureiros e alfaiates que sabem como adequar aquele vestido da revista ou o fato daquela marca, às medidas e características do nosso corpo.

E agora a pergunta que deve estar a surgir na sua cabeça é…

Se eu não sei como transformar a minha casa num espaço harmonioso, equilibrado e funcional, por onde devo começar?

Se pensarmos que o conceito de lar implica a expressão da nossa individualidade, tendo em conta a nossa identidade cultural e social, há que ter como ponto de partida um conhecimento da pessoa e depois do espaço a transformar. A simbiose entre o indivíduo e o ambiente, é a chave mestra!

No campo da Psicologia, há estudos que revelam o efeito dos espaços na vida das pessoas e vice-versa. Sabe-se, por exemplo, que a sensação de conforto e felicidade está vinculada aos nossos instintos primários, os que estão “gravados” no nosso cérebro mais antigo, do ponto de vista evolutivo.

Como? Aqui tem alguns exemplos:

Abrigo – a nossa sobrevivência enquanto espécie dependeu de lugares seguros contra predadores e intempéries. Igualmente o nosso descanso através de um sono reparador, foi e é extremamente importante. Os nossos antepassados não teriam sobrevivido se não tivessem encontrado lugares centrais e bem protegidos para dormir e repor energias, tão necessárias para a sua vida hiperexigente. Nos dias de hoje, continuamos a ter necessidade de descansar num local privado, seguro e confortável. Quando não é possível a construção ou transformação da casa, podem ajustar-se peças de mobiliário como a cama e a sua posição, controlo da luminosidade e do ruído, etc.

Casas que têm espaços com estas características, com quartos e zonas de repouso protegidas de zonas de circulação ou da luz e ruído, são casas mais procuradas e, sombólicamente, casas que nos permitem sonhar!

Materiais como a pedra e madeira, espaços compartimentados com áreas privadas, são elementos que transmitem a sensação de conforto e segurança. A Casa da Cascata, de Frank Lloyd Wright, é um perfeito exemplo.

Wikipedia

Visibilidade – ter a possibilidade de ver o que se passa à nossa volta, prever ameaças e observar pontos de fuga, foram também factores importantes na sobrevivência dos nossos antepassados. Não foi casual a escolha de lugares altos para contruir castelos e fortalezas. Temos a necessidade de nos sentir seguros mas também atentos e com campo de visão alargado. A isto se deve a preferência maioritária por tectos altos, espaços amplos, luminosos, casas em montanhas ou apartamentos em prédios muito altos.

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Mistério – Enquanto espécie, a nossa evolução esteve sempre ligada à descoberta e à conquista de novas aprendizagens. Ainda hoje é a vontade de conhecer que nos impulsiona a viajar, conhecer novas culturas, aprender e experimentar novidades. Isto reflete-se nos espaços e na atração por corredores, nichos, escadas, divisões ocultas das áreas mais sociais, caminhos de acesso à porta de entrada com curvas e recantos, que são segredos dissimulados e apetitosos para o nosso cérebro.

Pinterest

Natureza – Existem estudos que indicam que imagens de paisagens naturais podem melhorar o nosso estado de humor, transmitir tranquilidade e têm um impacto positivo na nossa saúde. Para os nossos antepassados, um espaço com vegetação e água era sinónimo de garantia de alimentos e de sobrevivência. E a melhor notícia é que o nosso inconsciente, regulador oculto dos nossos comportamentos e tomadas de decisão, não faz distinção entre uma imagem de uma floresta, por exemplo, e uma floresta verdadeira, pelo que fotografias, quadros, plantas, sons da natureza, funcionam perfeitamente!

WallPepper Collezioni

Simetrias – A regularidade das estações do ano, a cadência de comportamentos das presas, os padrões e as simetrias presentes na natureza, estão gravados no nosso cérebro como sinónimos de segurança, previsibilidade e confiabilidade. Inclusivamente, na esfera da atracção sexual, o nosso cérebro tende a associar um corpo simétrico e bem proporcionado, a genes mais saudáveis.

Nos espaços em que vivemos, a simetria, a ordem, o equilíbrio e a proporção, são interpretados do ponto de vista evolutivo, como indicadores de segurança, confiança e conforto. Paredes, quadros, janelas, tapetes, tecidos, disposição de mobiliário que seguem um padrão de cores, texturas, formas geométricas, dimensão, etc, parecem transmitir-nos sensações agradáveis.

A nossa percepção é formada pelos nossos sentidos e é através destes que percebemos o que nos rodeia. Imagens, sons, cheiros, texturas definem as nossas experiências e são os alicerces que nos definem, nos molda a personalidade, interferem na nossa fisiologia e, por consequência, nas nossas respostas, sentimentos e comportamentos. A antiga e tão conhecida expressão “ o que os  olhos não vêm, o coração não sente” remete para o efeito que os sentidos exercem no nosso consciente e inconsciente. Por isto, o espaço onde vivemos, trabalhamos e passamos o nosso tempo, é uma fonte de informação e estímulos que condicionam o nosso bem estar físico e emocional.

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Investir na nossa casa, transformando-a num lar, é sempre um dos melhores investimentos que podemos fazer, por nós e por aqueles que vivem connosco!

MUDE Home & Life

criamos espaços a pensar em pessoas

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